'Com dívidas e sem nada', diz morador que viu esposa morrer em resgate e teve casa destruída em 3 enchentes no Vale do Taquari

  • 04/09/2024
(Foto: Reprodução)
Milton Silva enfrentou as tragédias climáticas de setembro e novembro de 2023 e maio de 2024. Policial militar resgatava Maria da Conceição quando cabo de helicóptero se rompeu e ambos caíram na água. Milton Alves da Silva ficou viúvo de Maria da Conceição Alves do Rosário na enchente de setembro de 2023 Arquivo pessoal Há um ano, Milton Alves da Silva enfrentava a primeira das três enchentes que levaram a sua casa, invadida pela água das chuvas em Lajeado, no Vale do Taquari. Com 64 anos, ele tem lidado com uma batalha incessante contra a força das tragédias ambientais no último ano. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp Além de levar as paredes, o telhado e tudo o que tinha dentro de casa, as fortes chuvas também levaram a sua esposa, Maria da Conceição Alves do Rosário, na enchente que atingiu o estado no mês de setembro de 2023 e deixou 54 mortos, sendo a maioria no Vale do Taquari (veja o mapa abaixo). Morador do bairro Carneiros há 31 anos, Milton diz nunca ter enfrentado fenômenos como esses anteriormente. Ele conta que a água atingiu cerca de dois metros dentro da residência. "A água começou a entrar dentro de casa e, três horas depois, eu e a minha esposa já estávamos no telhado, esperando socorro", relembra Milton. Foi quando a ajuda que tanto pediram chegou: um helicóptero. No entanto, o que era para ser um resgate se tornou um pesadelo. Um policial militar resgatava Maria da Conceição, quando o cabo em que eram içados se rompeu e ambos caíram em um rio, de uma altura de cerca de 20 metros. A mulher não resistiu à queda (veja vídeo abaixo). "Eu ajudei a amarrar ela, eu vi ela caindo, nadando, eu vi ela morrendo", conta Milton. Imagens do resgate que vitimou Maria da Conceição Alves da Silva em Lajeado, no RS Para o esposo, que esperava resgate em cima do telhado, aquele momento o fez sentir "incapaz". "Ali eu descobri que nós todos somos incapazes perante uma dificuldade. Ali eu descobri que a vida tem um valor muito grande perto dos bens, móveis, carros, tudo", diz Milton. Apesar da perda irreparável, Milton fez o possível para reconstruir a casa. Ele perdeu 70% de tudo o que ficou dentro da residência. Com suas economias, Milton conseguiu restaurar o local em um mês e meio: pintou, refez móveis, consertou plantações para voltares a darem frutos e verduras novamente. Vale do Taquari: um ano depois da tragédia que deixou 54 mortos No entanto, a tragédia não cessou. Em novembro de 2023, uma nova enchente devastou o que havia sido reconstruído. Desta vez, Milton pegou o carro, colocou roupas dentro, e foi para um abrigo um dia antes de a água chegar em sua casa. A água entrou 1,5 metro dentro do imóvel, danificando os móveis restantes. "Ainda tinha dívidas de setembro e a de novembro me levou o restinho das coisas embora. Fiquei com dívidas e sem nada na casa", conta Milton. Casa de Milton Alves da Silva antes de ser afetada pelas enchentes do RS Arquivo pessoal Milton diz ter pedido auxílio financeiro aos poderes públicos desde setembro, sem sucesso. O morador de Lajeado contou com cestas básicas e a solidariedade de amigos e empresários para recomeçar. A casa ficou novamente em pé a tempo do Natal. "Não podia nem comemorar (o Natal) depois de duas pauladas dessas, mas a casa estava florida, tudo plantado novamente", comenta Milton. Após trabalhar 40 anos como caminhoneiro, o homem conta que ficou com problemas na coluna devido ao excesso de viagens. Por conta disso, recebia um benefício por incapacidade de exercer a profissão e tinha esse dinheiro como renda. Contudo, de acordo com ele, "depois de cinco anos me negaram esse benefício e, agora, eu sigo realmente sem nada do poder público". Milton Alves da Silva, morador de Lajeado que teve a casa afetada por três enchentes no RS Arquivo pessoal Novos desastres em 2024 Em janeiro, um vendaval que atingiu a região também levou parte da casa de Milton: "botei o telhado em cima, limpei, pintei a casa e ficou boa de novo", conta. O homem teve um respiro de quatro meses para conseguir deixar a casa em ordem, já que, em maio de 2024, a tragédia climática atingiu o seu ápice. Dessa vez, a pior enchente já vista no Rio Grande do Sul, deixando 183 mortos e 27 desaparecidos. Entre os 2.398.255 afetados em todo o estado, Milton estava, mais uma vez, entre eles. "Eu tive a ajuda do meu filho, que conseguiu um caminhão guincho, para levar 30% da minha mobília. Eles conseguiram tirar às pressas e nós conseguimos sair do local, porque já estava sendo ilhado", conta o homem. A casa de Milton submergiu na enchente. Segundo o relato, a água ultrapassou três metros acima do telhado, destruindo os últimos vestígios do que ele havia conseguido salvar desde a tragédia de setembro. Casa de Milton Alves da Silva, destruída pela enchente de maio em Lajeado Arquivo pessoal "Nessa de maio eu ganhei R$ 5 mil do governo federal, que eu consegui pagar as dívidas de setembro e um pouco das dívidas de novembro, mas ainda permaneço com dívidas de novembro e todas de maio", lamenta. Novamente, Milton precisou ir para um abrigo. Lá, conheceu Rosane, uma mulher também viúva que lhe convidou para morar na casa dela, já que ele não tinha mais nada, apenas o que sobrou da estrutura da casa: a cozinha, o quarto e o banheiro. Conhecidos abriram uma a campanha de arrecadação online para Milton, que fez com que ele conseguisse comprar um terreno em Santa Clara do Sul, em um local que não foi atingido pelas enchentes. "O terreno está lá, precisa construir a casa, mas de momento ainda hoje estou na casa da minha companheira atual, com esperança de que eu consiga fundos pra construir essa casa e pagar as dívidas", diz Milton. Milton Alves da Silva, morador de Lajeado, junto da companheira Rosane Arquivo pessoal VÍDEOS: Tudo sobre o RS

FONTE: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2024/09/04/com-dividas-e-sem-nada-diz-morador-que-viu-esposa-morrer-em-resgate-e-teve-casa-destruida-em-3-enchentes-no-vale-do-taquari.ghtml


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